4 de setembro de 2008

Teatro Mágico: sucesso valorizando a arte

Um grupo que reúne teatro, música e circo em um único espetáculo. Quem já assistiu a uma apresentação da trupe Teatro Mágico sabe que o grupo pode ser explicado deste modo mas não se resume a isso. Com letras muito reflexivas e uma energia contagiante o grupo consquistou fãs de todas as partes do país.
No último domingo, 31, a trupe fez um show gratuito em Santo André e reuniu cerca de 20 mil pessoas (segundo dados da polícia militar). Com duas horas de show tocaram sucessos do primeiro cd "Só para raros" e as novas canções do cd 2º Ato, como "Reticências" e "Cidadão de Papelão".

Na minha opinião como jornalista um show contagiante para qualquer pessoa que gosta de música boa. Já na minha opinião como fã: excelente. Antes do show o violinista da trupe, Galdino Octopus, concedeu uma entrevista:

O que está diferenciado neste segundo cd?
G: Começamos o 1º ato com uma estrutura um pouco menor. Este 2º cd foi feito em um dos melhores estúdios de São Paulo. O conjunto com a banda as músicas estão mais questionadoras em relação a política, a vida do sujeito, ou seja, a idéia daquele ambiente mais alegre e descontraído passa a ter um tom mais escurecido, em pouco mais crítico, mas sem perder a leveza. As músicas estão mais amadurecidas e acho que isso deu no resultado de 700 mil dowloads em menos de três meses.

O que influencia no trabalho das composições?
G: As influências continuam sendo as mesmas: Secos e Molhados, David Mathews Band, Chico Buarque, Antônio Nobre e outros. A música brasileira e um pop mais refinado norte-americano.

Qual mensagem vocês pretendem passar com as letras?
G: Como mensagem você tem, por exemplo, "Cidadão de Papelão" que faz uma crítica com a relação que a classe média tem com as pessoas, por exemplo, a faxineira que não é enxergada. O cidadão de classe média não percebe o cidadão que se torna invisível. Ou seja, a gente precisa prestar mais atenção nisso, ser mais humano e solidário. Na música o "Mérito e o Monstro" tem a questão do sujeito que passa o tempo inteiro trabalhando, mas não tem tempo para a criatividade. Fazemos muitas críticas mas sem perder, como já falei, a doçura e a ternura.


O que diferencia um show fechado de um ao ar livre e gratuíto?
G: A diferença é que tem mais gente (risadas). É a oportunidade de outras pessoas que não conhecem o trabalho de conhecer. Mas a estrutura também é diferente. O Teatro Mágico se habituou a lidar com várias situações. Esses dias a gente tocou para 30 pessoas em uma feira, assim como a gente pode tocar aqui para cinco mil pessoas hoje. Na última vez que fizemos show aqui no Parque Central nós tocamos para sete mil pessoas. Para gente, tocando para uma ou para um milhão tocaremos sempre com o mesmo espírito.


Vocês tem a intenção de deixarem de ser independentes?
G: Hoje em dia as gravadoras estão praticamente falidas, não tem muito a que oferecer. A indústria fonográfica durante muito tempo nos tratou como irrelevantes. Então percebemos que em um determinado momento era possível a gente gravar o nosso próprio trabalho e divulgar aproveitando o crescimento da internet. Não faz sentido a gente deixar de ser independente. A gente quer buscar agora uma outra etapa do TM que é importante: consolidar o nome Teatro Mágico como um trabalho extremamente profissional e sério com toda a estrutura de qualquer outro artista. A gente quer criticar a falta de apoio dos meios governamentais. Ainda são poucos os investimentos na música independente. A arte independente é a que mais cresce. É hora das empresas e dos órgãos públicos passarem a valorizar a música e arte independente e ver que é um setor sério que precisa ser apoiado.

Há um receio de uma maior exposição à mídia acabar com a magia do Teatro Mágico?
G: A magia não tem como acabar. A magia esta na relação que você tem consigo mesma e com as pessoas que estão ao seu redor. As pessoas trazem essa relação com a magia, mas nós não temos medo que ela se acabe.

Como acontece a relação de vocês com o público, principalmente na internet?
G: A gente sempre partiu do príncipio de ser independente. Então nossa relação aconteceu com uma conversa franca e aberta com as pessoas que iam nos assistir. Os mercenários do TM é o público. É claro que isso nem sempre é possivel de acontecer, pois ás vezes temos que sair de um local para o outro correndo. O público a gente nem considera fã e sim colegas e amigos que nos apoiam. Temos uma comunicação tranqüila. Por isso temos a preocupação de não mitificar o artista, como "aquele cara é intocável e tal...". A gente trabalha com a magia da arte e temos uma relação natural com as pessoas e isso fez com que as pessoas se aproximassem da gente. O cara assiste o show e fala: vou fazer uma comunidade no orkut. De repente o cara é popular e isso vai fazendo com que outras pessoas nos conheçam. Isso para gente é fantástico. As pessoas estão fazendo aquilo que é importante que é divulgar o TM para gente.

Muitos grupos também realizam trabalhos sociais com o apoio de vocês...
G:A gente tem uma preocupação com isso. Por exemplo em várias apresentações a gente propõe que as pessoas levem um kg de alimento não perecível e tal. O público começou a perceber também que a gente tem um discurso, que não é só um discurso, em relação ao sujeito, a politização do homem com a natureza e a vida. As pessoas percebendo isso e se identificando passam a criar seus grupos e ir as ONGs, orfanatos, creches e asilos. Isso é legal porque a gente percebe que incentivamos, mas também somos incentivados por eles a ter essa postura.


Essa interação com a platéia nos shows (malabares, etc.) partiu de vocês ou foi uma coisa que foi surgindo espontâneamente?
G: No começo dos shows a gente tinha uma brincadeira de que cada um que chegava recebia um nariz de palhaço. Hoje isso não da mais certo, mesmo porque trazer oito mil narizes de palhaço...(risadas). Agora cada pessoa tem seu jeito próprio de interagir com o Teatro Mágico.


Quem são os raros?
G: Os raros que o Fernando ( Anitelli) quer dizer é que todos nós somos raros. Você é rara, quando você morrer, você estará em extinção. Não é que as pessoas que assistem o Teatro Mágico são diferenciadas especificamente porque assistem o TM. São diferenciadas porque cada um é especial e raro neste sentido.

A mídia começou a abrir as portas para vocês?
G: Estão começando a abrir espaço para gente. Vocês são mídias, jornalistas! Vocês têm que começar a buscar novas artes, artistas independentes. O público é que foi fazendo a visibilidade nossa com a grande mídia. A grande mídia não tem mais espaço. Hoje, é só pegar o que passou no Jornal Nacional em um dia e repetir no outro. Não tem pesquisa. Essa busca tem que ser feita pelo blogueiro, o cara que tem um jornal de bairro. A grande mídia abre espaço a partir da mídia pequena.

Um comentário:

Unknown disse...

Matéria excelentee...
O teatro Mágico é pura cultural, apesar de mts ainda não ter acesso, eles conseguem cativar a mts pessoas a kda show, são um fenômenooo da nova mpb!

Parabéns pelo blog!!
=D